Que sombras poderão esconder um poeta? E que luzes o alumiam? Casais Monteiro, na Introdução às Cartas Inéditas alerta-nos: ” A sua poesia (de António Nobre) é assim uma luta com a morte e a sua única arma de defesa. Outros escudam-se em estoicismo, vingam-se numa fúria destruidora, contra a sociedade, contra os sãos, contra Deus… Nobre, nem se vingou, nem tinha força para fitar, indiferente a morte que o esperava, inflexível: quedou-se, embalou-se na sua tristeza enorme… o doente comunga com todas as coisas em que pressente a doença – é uma doce fraternidade que lhe resta…”
E ao ler as Cartas deste livro, misturam-se os dois António Nobre: “o Nobre de Leça e dos tempos de estudante de Coimbra”, que escreve aos amigos, àqueles que “viviam na mesma atmosfera emotiva e literária” (Alfredo de Campos, Augusto de Castro ou Agostinho de Campos), e depois o outro. O que nas cartas à família, questiona, responde, abraça. Estas, valem pelo seu interesse biográfico. As outras, “pelo tom, pelo estilo, pelo assunto” são o pulsar dos seus inconstantes estados de alma.