Ouvi há tempos que iria ser vendida a “Casa”. A “Ilustre Casa de Ramires”. Não sei se sim, se não, se talvez. Prefiro não saber.
Acordei hoje com a imagem daquela figura seca de carnes mas cheia de espírito, do sentimento das páginas lidas, da sua intemporalidade genial.
E depois, para onde esvoaçarão os pensamentos de Gonçalo Mendes Ramires, perdidos nos decotes de D. Ana? E quem acabará o charuto se as acácias também se forem, lá do Terreiro da Louça, da tal novela inspirada na Torre, velha quanto o fidalgo, o mais antigo do burgo? E depois, a casa do Cavaleiro e as olaias e o romance e as luas e tanta coisa? Não, não poderia acabar assim a história da velha casa…
“… e nesse momento, da azinhaga funda, apagada em sombra, subia chiando, carregado de mato, um carro de bois, que uma linda boieirinha guiava…”.
Eça, esse, este que por aqui está, dia a dia, todos os dias, que fez com que dele se escrevesse tanto, parece olhar o futuro. Parece. Até um dia no Panteão, talvez pensando n’ As Serras e a Cidade, um romance escrito ao contrário, diria o escritor no rescaldo de um repasto algo indigesto, tantas as voltas lhe dão.
Adelino Pires / 18.Julho.24