“… Como tu tens tempo, meu amigo, para sofrer tanto!…”, escrevia ao seu amigo e confidente Silva Pinto, que lhe publicou postumamente “O Livro de Cesário Verde”, obra rara e disputada pelos bibliófilos, na sua primeira edição.
Há um aC. e um pC. (antes de Cesário e um pós Cesário). Como haverá outros antes e pós tanta coisa. Apesar de incompreendido no seu tempo. Desdenhado por alguns (seja mais “Cesário” e menos “Verde”, chegou a dizer Ramallho”). Ignorado por outros.
A Cesário Verde se deve a “expressão poética superior da pequena burguesia lisboeta irreligiosa e republicana” do seu tempo, que se incomodava com a insinceridade piegas, que assimilou Baudelaire nas sua viagens por Paris (e Londres), que à luz de Eça injectou estilo desdobrando a frase, que valorizou o vocábulo tornando escorreita a poesia, que embalou a leitura entre o pormenor e o horizonte, fosse porque a sua débil saúde lhe aguçasse a sensibilidade, fosse porque não podendo viver apenas da poesia, por ela sofria (mais que pela doença que o consumia).
“… Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Passa hoje mais um ano sobre a sua morte.
Adelino Pires / 19.Julho.24