O lugar dos livros impossíveis!

Quando em 2004, já lá vão 20 anos A. Campos de Matos, um dos grandes estudiosos de Eça, escreveu um pequeno livrinho a que chamou 7 biografias de Eça de Queiroz, no seu preâmbulo assim escrevia:
Como escreveu David Mourão-Ferreira a propósito de Teixeira Gomes, “nem a biografia explica a obra, nem dela inteiramente podemos prescindir”.
Neste livro, Campos Matos opta pela recensão crítica de 7 biografias publicadas entre 1911 e 2001: desde logo a de Miguel Mello, “… jornalista, poeta e romancista brasileiro, natural de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, ao qual coube o mérito e a honra de ser o o primeiro autor, em livro, de um estudo crítico-biográfico de Eça, quando grande parte da obra póstuma do escritor era ainda desconhecida…”
Cinco anos mais tarde, em 1916, “… cabe ao conselheiro António Cabral (conselheiro por mercê honorífica do rei D. Carlos): ter sido o primeiro biógrafo português de Eça de Queiroz, com a publicação da obra “Eça de Queiroz, a sua Vida e a sua obra, incluíndo cartas e documentos inéditos, com uma edição melhorada, em 1945…”.
A sua condição social, o relacionamento com figuras relevantes da aristocracia da época, o acesso a testemunhos vários de contemporâneos de Eça como os condes de Arnoso e de Sabugosa, Oliveira Martins, Eugénio de Castro ou António Enes, ter-lhe-ão permitido deixar para a posteridade “… vasta matéria para os biógrafos que lhe sucederam, como Viana Moog e João Gaspar Simões…”.
A terceira biografia recenseada, a do escritor e académico brasileiro Viana Moog, foi muito popular no Brasil. Escreve Campos Matos que o autor a terá escrito “… nos moldes da tradição literária estabelecida por André Maurois e Stefan Zweig, de que resultou uma obra de narrativa espontânea e agradável…”.
Quanto a “João Gaspar Simões, Vida e Obra de Eça de Queirós” (1ª edição de 1945 e 3ª edição revista de 1980), merece uma longa e menção especial, considerando que até à data se trataria “do mais vasto e bem articulado acervo informativo sobre o autor de Os Maias”, ao sintetizar o que de melhor se conhecia então sobre ele, sendo uma fonte preciosa de sugestões, onde se problematizam teses essenciais respeitantes à obra e às relações entre vida e obra. Coloca no entanto algumas reservas relativas ao excesso de “fantasias romanceadas”, dispensáveis numa biografia, no seu entender.
Já quanto à do Estadista, historiador, académico e biógrafo brasileiro Luís Viana Filho, “Eça de Queirós e o Século XIX”, autor das biografias de Machado de Assis e José de Alencar, reconhece que acrescenta novas pistas, fosse pelas facilidades de relacionamento que o seu alto cargo político propocionava, fosse porque era sobretudo um biógrafo-historiador. Juntou assim “…inúmeros documentos inéditos, sobretudo na área epistolar…”.
Não são poucas as críticas que faz ao livro do diplomata e escritor José Calvet de Magalhães, “Eça de Queiroz. A Vida Privada.”. Desde logo apontando a primeira frase do “Intróito”: “Esta é a história de um fidalgote sem fortuna, com um enorme talento literário”. Considera-a um atitude depreciativa. Com as reedições que a obra foi tendo, foi também evoluindo da ausência de notas de rodapé, até à titulação dos respectivos capítulos e elaboração do índice, inexistente na 1ª edição.
Por fim, “the last but not the least”, a recensão ao livro de Maria Filomena Mónica “Eça de Queirós”, é um mimo. E vale a pena ser lida para se perceber o que pode um escritor maior provocar mais de um século muito para além da sua morte.
Ao longo dos tempos, muitos outros autores, investigadores, académicos ou simples curiosos têm escrito sobre Eça.
Quando um escritor maior consegue fazer “prolongar a memória” sobre si e o que escreveu, merece bem mais que uma vénia, uma polémica ou seja lá o que for.
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