Há uns anos publiquei um texto onde falava de José Régio com quem tenho uma relação especial. É que o escritor, poeta, ensaísta e tanto mais, viveu mais tempo em Portalegre (onde nasci), que em Vila do Conde (onde nasceu).
Na altura, apresentei então um interessantíssimo conjunto de cartas de Régio, todas elas manuscritas e datadas daquela cidade do Alto Alentejo (entre 1951 e 1952), dirigidas ao editor Eduardo Salgueiro, a propósito da edição do livro “A Salvação do Mundo”, uma tragicomédia em três actos, publicado apenas em 54. Já então, o autor de “Poemas de Deus e do Diabo”, denotava o seu sentido premonitório no que pensava e escrevia.
“A Salvação do Mundo” decorre no reino imaginário da Traslândia, onde os chefes dos Partidos Aristocrático, Democrático e Extremista, são convidados a ouvir o discurso do rei:
“… Senhores! muito me apraz ouvir-vos discutir as vossas opiniões e soluções. Só terei prazer em vos ouvir. Tanto mais que, provavelmente, me seria hoje doloroso ouvir-me a mim próprio. Estais sempre em desacordo uns com os outros. Só geralmente, vos pondes de acordo contra mim. Contudo, também cada um de vós será capaz de se unir contra qualquer dos dois restantes…” Pedro de Traslândia
A sua primeira apresentação pública, como peça de teatro, em 1956, pelo Grupo Cénico da Associação Académica da Faculdade de Direito de Coimbra deixou sérias reservas quanto à sua teatralidade. Mas Régio, que considerava o teatro «a parte mais original, e, consequentemente, mais incompreendida da sua obra…», pouco se importaria com isso, e Jacob, Benilde e outros Sonhos de uma Noite de Verão, faziam-no sentir mais igual a si próprio. As cartas, essas, foram para o lugar certo, algures, uma Biblioteca deste país..
“A Salvação do Mundo” decorre no reino imaginário da Traslândia, onde os chefes dos Partidos Aristocrático, Democrático e Extremista, são convidados a ouvir o discurso do rei: