Pediram-me um texto sobre esta coisa dos livros, sobre o que é isto de andar aos papéis, mergulhado nas histórias de uns e de outros, de muitos que sem o saber, também estarão por aqui. Entrar no mundo dos outros, como diria o Gomes Ferreira, devassar almas, subir degraus, desembrulhar memórias e segredos fechados a sete chaves, sem códigos nos cadeados, ser confidente sem ser padre, num confessionário sem bênção, sem rezas, nem ladainhas.
Ser alfarrabista é tudo isto. Uma (a)ventura inquietante diria o Rodrigues Miguéis, uma descoberta incessante, um autor que se reencontra, um manuscrito escondido, um desabafo envergonhado, tanta e tanta discrição. E o escrevinhador agradece, mesmo que lhe falte o tema, há sempre alguém que aparece. Afinal, antes que chova, haja sempre algo que nos mova.
No velho normal, o que há de novo é acharmos novo o que já é velho. Para o Tê, a gente não lê já de há muito. Por aqui, pelo (quase) deserto de um histórico centro de uma cidade interior, a diferença entre ter a porta aberta ou fechada, é apenas de corrente de ar. Sempre o mesmo, sempre os mesmos.
Fora de rota, mais monge que missionário, os livros, esses, mudam de sítio, à espera que mudem de mãos. A net, essa, dá uma mãozinha e o escrevinhar por aí faz o resto.
E às tantas, algures num discreto apeadeiro, apanho o comboio da RELI. Devagar, devagarinho, mastigando o tempo, entro numa das carruagens, sento-me e deixo-me ir. Sinto que outros fazem a mesma viagem. Será longa, pelas linhas daqui e dali, com estações e apeadeiros, que isso dos TGV será para outros.
No velho normal, há um comboio a apitar.