O lugar dos livros impossíveis!

Sempre que entro no mundo dos outros sinto um misto de sentimentos. É assim como que olhar pela fechadura de uma porta fechada. Quem escreveu, decerto que não o fez para que a sua correspondência viesse a ser publicada. Ao ler as cartas trocadas entre Sophia e Jorge de Sena penso no que pensaria cada um deles se ainda vivesse e visse parte sua correspondência assim publicada. Qual a fronteira entre a privacidade devida e o interesse público nelas revelado?
Acredito que para um editor com critério não tenha sido tarefa fácil. Desde logo, por tal só ter sido possível pelo facto das cartas ainda existirem, preservadas por Mécia de Sena. Quantas vezes são fogo que ardem sem se ver? Depois, porque alguns dos familiares o permitiram ou, como no caso presente, se envolveram até. Sejam quais forem as motivações, aqui se revelam factos e desabafos, estados de alma e confidências que envolvem dois dos maiores vultos da literatura portuguesa do passado século. Amigos. Com amizades em comum e outras nem tanto. Com pontos em comum e outros nem tanto. Solidários ao ponto de, sabendo que concorriam ao mesmo prémio de que um dos dois sairia vencedor, souberam manter a elevação e a amizade. E assim foi. Durante toda a vida. Apesar da distância que paradoxalmente os unia.
“… Há muito estavas longe
Mas vinham cartas poemas e notícias
E pensávamos que sempre voltarias(…)
E agora chega a notícia que morreste
A morte vem como nenhuma carta…”, Carta(s) a Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia-Sena / As Cartas
Correspondência 1959-1978
adelino pires
28.set.25
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