Leio alguma coisa de um escritor pouco lido. Um livro inspirador. O título desperta-nos e embala-nos para um outro tempo, um outro lugar, uma outra gente. Um texto singelo, tocante, assim como as badaladas da voz da montanha, algures num Portugal profundo dos anos sessenta.
É apenas o texto de abertura de um livro que se lê com gosto, porque a escrita de Namora, médico, escritor e viandante, nos faz viajar aos sabor dos lugares e dos retalhos da vida de quem foi conhecendo.
Aqui se fala também do “Muro” antes da queda, da Portugália de Coimbra num sentido testemunho a Augusto Santos Abranches que ousou vendendo livros enquanto outros estudavam por eles, (e dos seus Cadernos da Juventude) dirigidos por Joaquim Namorado, Políbio Gomes dos Santos e Cochofel e, pelo que diz, dos quais se terão salvado apenas três exemplares da fogueira inquisitória dos pátios do Governo Civil daquela Coimbra, pródiga em aspirantes à literatura, ao sonho e à utopia.
Tudo isto a propósito do sino de uma aldeia próxima de que nos fala este livro, ‘Um Sino na Montanha’, o primeiro de cinco dos “Cadernos de Um Escritor”, publicado em 1968. Namora foi um viajante. Viajou por dentro de cada um dos doentes que consultava. E viajou por fora. Assim foi partilhando algumas dessa viagens.