Leio alguma coisa de alguém de quem pouco hoje se lê. O título desperta-nos e embala-nos para um outro tempo, um outro lugar, uma outra gente. Um texto singelo, tocante, assim como as badaladas da voz da montanha, algures num Portugal profundo dos anos sessenta.
É apenas o texto de abertura de um livro que se lê com gosto, porque a escrita de Namora, médico, escritor e viandante, nos faz viajar aos sabor dos lugares e dos retalhos da vida de quem foi conhecendo.
Aqui se fala também do “Muro” antes da queda, da Portugália de Coimbra num sentido testemunho a Augusto Santos Abranches que ousou vendendo livros enquanto outros estudavam por eles, (e dos seus Cadernos da Juventude) dirigidos por Joaquim Namorado, Políbio Gomes dos Santos e Cochofel e, pelo que diz, dos quais se terão salvado apenas três exemplares da fogueira inquisitória dos pátios do Governo Civil daquela Coimbra, pródiga em aspirantes à literatura, ao sonho e à utopia.
Tudo isto a propósito do sino de uma aldeia próxima de um lugar onde a Andresa da Poema – handmade books and arts®, estaria quando, há dias, me enviou a sua habitual newsletter mensal que inspira quem a recebe.
Uma artesã no recato. Um escritor pouco lido. Um livro inspirador. Nada melhor para começar uma semana quente, “… num país que põe onde faz vista e que não põe onde faz falta…” *
Adelino Pires / 5.Agosto.2024
* cit. “Um Sino na Montanha”, Fernando Namora (frase atribuível a um geral dos Jesuítas)
Disponível aqui: https://doutrotempo.com/produto/um-sino-na-montanha-cadernos-de-um-escritor/